terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ser jardim


Tem uma semente no meu coração
Pra ser sincera jogaram essa semente
E eu descuidadamente permiti que ela fosse nutrida

E ela foi germinando, pouco a pouco
Regaram-na com carinho, compreensão e respeito
E ela foi crescendo, crescendo e fincando raízes

Ai, que sementinha consumidora
Consumiu meu egoísmo, minha presunção e solitarismo
Ela baniu minhas tristezas e deu lugar ao idealismo

Ela me destrói por dentro, sai com seu caule perfurando tudo
Ao mesmo tempo que vive e me faz viver ela me mata
Eu deixei uma vida sozinha pra dar lugar à cumplicidade

Às vezes me perco na imensidão de suas folhas
Seus galhos ricos de frutos, frutos que ainda não provei de todos
Sim, porque sei que esses frutos serão degustados um a um

Tem uma semente no meu coração
Todo dia um tal semeador vem me semear
Não sei se vou ter espaço pra um jardim, só sei que quero ser um


Joyce Cordeiro de Marins

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Culpa e poesia



Você acha que amar leva tempo
Tempo leva pra encontrar o amor
Pra amar só é preciso alguém
O tempo você faz com ela [as batidas de dois corações são as batidas de um relógio

Você acha que o amor é passageiro
Passageiro é o sentimento de mágoa quando o outro vai embora
Pra esquecer alguém é preciso amor próprio
O auto amor é sua única escolha [auto-preservação é como chuva que cai, molha tudo

Você acha que meus versos são versos
Versos são escolhas e eu ainda não fiz as minhas
Pra versear é preciso papel, lápis e culpa
A culpa assusta mais que a morte [a sombra da culpa cega mais que a morte súbita

Joyce Marins